sábado, 25 de agosto de 2007

A seara fértil das terras vermelhas de Londrina


-O que aparece nas entrelinhas da narrativa é uma cidade de Londrina em plena efervescência cultural, repleta de grandes festivais de música popular, manifestações de poesia, artes plásticas etc. Você acredita que este tipo de experiência pode ser vivenciada nos dias de hoje em outras regiões brasileiras?

-Com toda certeza que se pode ter em início de século, àquela Londrina do final da década de 1960 foi algo sui generis. Do espírito empreendedor que ali brotou ao caráter de resistência dos festivais, que contemplaram todas as áreas artísticas, um legado de expressivas possibilidades desabrochou – literalmente falando –, seus desdobramentos puderam ser percebidos na música, com a Patife Band; na poesia, com Rodrigo Garcia Lopes, Ademir Assunção e Marcos Losnak (editores da imprescindível revista Coyote); na dramaturgia, com Mário Bortolotto, Maurício Arruda Mendonça e Paulo Moraes. No entanto, hoje, apesar dos descaminhos de nossas políticas públicas, que deixou imensos vazios nas demandas populares por cultura e conhecimento, é amplamente possível acontecer algo parecido mas não saberia com alguma precisão dizer como. É sabido que os ideais coletivos de enunciação foram abortados em detrimento da lógica do sucesso individual, do carreirismo, imposição do capitalismo e suas artimanhas, do mercado de trabalho e sua mortalha. Basta nossas antenas entorpecidas pelo medo, poluição e pela publicidade se re-ligarem e veremos toda a produção de bens imateriais que pipoca da Amazônia ao Rio Grande do Sul, aí sim teremos idéia de como esse fenômeno se renova, mesmo não ocupando o grande mercado tão alardeado pelos teóricos da terceira via e pelas editorias “culturais” presas à essa mesma e perversa lógica corporativa que visa o lucro a qualquer preço.

-Qual o maior legado que a Vanguarda Paulista deixou para as futuras gerações?
-Apesar do termo Vanguarda Paulista ser usado como clichê para designar uma geração marcada exatamente por sua diversidade de propostas e matizes, e que aliou em seus trabalhos traços de ruptura estética e diálogo com a tradição, não creio ter sido bem esse o ponto que uniu os vários exponentes surgidos no mesmo cenário e suas respectivas contribuições. Mas, de qualquer forma, é possível sim identificar aqui e ali, na produção desses artistas, além do já alardeado experimentalismo (principalmente em Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção); novas possibilidades poéticas (Rumo, também o Itamar); a presença do canto falado (Arrigo); também da fala no canto (Rumo); um aproach com o teatro (Arrigo, Itamar, Premê, Língua de Trapo) - isso antes da Blitz usar vocalistas em sua mise-en-scène; o humor (Língua, Premê). Outro ponto importante dessa geração, à necessidade de uma maior liberdade de escolha em relação ao conteúdo e veiculação do produto industrial (capa, encarte, estratégias de divulgação sem o pagamento de jabaculê). Para as novas gerações consumidoras de música saberem (alguém se exclui dessa?): não foi o Lobão que criou a “Música Independente” no país do carnaval! Essa necessidade surgiu como prerrogativa à existência criativa dos emergentes compositores de então, em um momento onde a música brasileira de mercado e os espaços promocionais, e as gravadoras multinacionais que o detinham, se distanciavam de um sentido de renovação de nomes e linguagem.

Um comentário:

Anônimo disse...

necessario verificar:)